Família Hammes: 140 anos em São Lourenço do Sul
No dia 18 de junho de 1872 chegava ao porto do Rio de Janeiro, capital do Império do Brasil, o veleiro “Arnold”, ainda com bandeira da já extinta Confederação Alemã do Norte. Ele trazia a bordo 163 imigrantes da recém-formada Alemanha que, como se sabe, foi unificada em 1871, a partir de dezenas de unidades germânicas independentes, por Otto von Bismarck. “Pela razão ou pela força” conquistava, então, o status de mais forte nação da Europa. Estimulada pelo governo brasileiro, a imigração tinha por finalidade povoar importantes zonas brasileiras inabitadas, aumentando com isso sua densidade demográfica, e a de tornar, pelo trabalho que se esperava desses estrangeiros, um país próspero economicamente, já que a maioria dos que chegavam era de agricultores, de possíveis industriais ou de comerciantes.
Dentre os viajantes do “Arnold” havia alguns com o sobrenome Hammes, originários de uma região ao lado do rio Reno denominada Hunsrück, pertencente, na época, à Prússia. Ao chegar à província de São Pedro, hoje Rio Grande do Sul, a maioria desses Hammes dirigiu-se para a zona central de nosso atual estado. Um, no entanto, de nome Johann Philipp, escolheu São Lourenço para viver. Em sua pátria de origem, ele tinha participado de duas guerras que, vencidas pelos prussianos, colaboraram para transformar os antigos pequenos e muito deles inexpressivos estados, liderados pelo maior, a poderosa Prússia, na grande Alemanha dirigida pelo Kaiser (imperador) Guilherme II. Seus feitos foram reconhecidos com duas medalhas ao mérito.
Chegando à cidade do Rio Grande, poucos dias depois da escala no Rio de Janeiro, nos dias intermediários da segunda quinzena de junho de 1872, encontrou a também imigrante do Hunsrück, Christina Scheer, com quem casaria no altar da velha igreja de São Pedro, viajando, ambos, para a colônia alemã fundada por Jacob Rheingantz na região norte do então grande município de Pelotas (que se estendia à época) até o rio Camaquã.
Em São Lourenço, aprazível balneário à margem da Lagoa dos Patos, estabeleceram-se num dos lugares mais altos do município, por isso mesmo denominado Boa Vista, onde construíram uma casa de comércio que logo prosperou, tornando-se uma referência na região.
No transcorrer dos anos, dez filhos, cinco homens e cinco mulheres, lhes garantiriam a descendência. Depois, nesse mesmo lugar, foi construído um moinho de vento (único do município), um hotel, uma fábrica de café, uma indústria de laticínios, uma farmácia, ajudando sobremaneira ao desenvolvimento do local, hoje, inclusive, candidatando-se a ser mais um município gaúcho. Dos seus descendentes, contando os filhos, esposas, genros, noras, netos, bisnetos, trinetos e até pentanetos que os sucederam, o número atualmente chega a mais de mil pessoas. Todas, sem exceção, trabalhando para que o caminho da história do município continue progredindo.
Algum tempo depois chegava, também a Boa Vista, outro imigrante Hammes. E, para confundir um pouco, com o mesmo primeiro nome: Johann, sem parentesco algum entre um e outro. Para o mesmo lugar e com os mesmos nome e sobrenome! Esse foi agricultor e teve nove filhos: cinco homens e cinco mulheres. E, para complicar um pouco mais ainda, ambos os imigrantes Johann tiveram filhos com o mesmo primeiro nome, Pedro: Pedro Hammes e Pedro Hammes II…
A história dos imigrantes Johann Philipp e Johann – que ao chegarem a São Lourenço adotaram os nomes, traduzidos, de João Hammes –, o primeiro com todos os pormenores de sua atribulada e bem sucedida vida e o segundo com algumas nuanças, e suas descendências, será contada em um livro, com inúmeras ilustrações e fotos, que deverá ser lançado em novembro próximo na Feira do Livro de São Lourenço do Sul pelo bisneto de Johann Philipp, o médico Edilberto Luiz Hammes. Vidas dignas de serem conhecidas. E exemplos de trabalho e honestidade.
Johann Philipp e Johann faleceram relativamente jovens, respectivamente com 61 e 63 anos de idade, e estão sepultados, quase lado a lado no cemitério católico de Boa Vista, 6º distrito de São Lourenço do Sul, a cerca de 30 quilômetros da sede do município.
Germano e Otto; e as mulheres, na mesma ordem: Susanna, Clementina (a menor), Joanna, Ernestina e Anna. Lamentavelmente, até agora, o autor não conseguiu qualquer foto do agricultor imigrante Johann…
Fonte: Edilberto Hammes – médido, escritor, agraciado Distinção Imigração Alemã 2011 – categoria Interior do RS
E-mail: edilbertohammes@yahoo.com.br