O olhar de Jorge Cunha sobre imigração

O dia 25 de junho é convencionado como Dia do Imigrante. De acordo com o antropólogo argentino Néstor García Canclini, vivemos numa sociedade culturalmente híbrida, isto é, as culturas se expõem mutuamente, agregando valores, hábitos uma da outra. O Brasil é um país multifacetado, onde etnias, crenças, costumes e culturas estão combinados. O processo de imigração foi potencializador não só da economia nacional, como também de mudanças socioculturais. A Editora da UFSM convidou o professor Jorge Luiz da Cunha para comentar alguns pontos sobre imigração no Brasil.

 

Editora UFSM. As famílias que imigraram para o Brasil tinham outras opções de destino, como Argentina, Canadá e Venezuela. Por que escolheram vir para cá?

 

Jorge Cunha. Quando se trata da colonização do território brasileiro entre a segunda metade do século XIX e o começo do século XX, fala-se de um país com imenso território parcialmente ocupado, praticamente só na faixa litorânea. Neste período, para assegurar a integralidade de sua região, o país precisou colonizar essas terras e buscou isso nos colonos imigrantes da Europa. Inicialmente eram alemães, pois existia uma teoria política amplamente discutida de que só haveria desenvolvimento se a população emigrada fosse de países com uma grande cultura ou que estivessem se desenvolvendo igualmente na Europa.

A identificação que os parlamentares do Rio de Janeiro faziam na segunda metade do século XIX, ainda durante o II Império, era de que era preciso “branquear” a população brasileira trazendo europeus na condição de imigrantes. A intenção não só era de que colonizassem o território, mas também de que contribuíssem para defender as fronteiras do Brasil contra ameaças estrangeiras. A imigração alemã inicia logo após a Independência, alcança seu pico na metade do século XIX, nos anos 1850, e depois é substituída paulatinamente pela entrada de italianos que, em número, chega a superar a imigração de alemães. Há também outros grupos extremamente importantes: espanhóis, portugueses – que vêm na virada do século XIX para o século XX –, muitos poloneses, russos e outras etnias eslavas.

Escolhem o Brasil porque, até 1854, as terras eram distribuídas gratuitamente em lotes que variavam entre 72 e 48 hectares. A partir deste ano, os lotes são vendidos a prazos muito longos e a preços muito baixos. Além disso, o Brasil foi escolhido, provavelmente, pela eficiência da propaganda realizada nos portos europeus, o que facilitou a vinda de povos imigrantes.

O Brasil recebeu cerca de três milhões de imigrantes entre 1824 e 1914. Desses, cerca de 300 mil eram alemães. Os italianos chegaram a somar meio milhão de imigrantes (o pico foi entre 1850-1860). O país com maior índice de imigração são os Estados Unidos da América, que receberam cerca de seis milhões de alemães no mesmo período.

 

Editora UFSM. Quais os reflexos da entrada de diferentes etnias no país?

 

Jorge Cunha. Há virtudes e defeitos. Por conta da diversidade a que estamos sujeitos como população brasileira pela escravidão e pelo modo como transferiram a população da África para o Brasil, temos o problema de um racismo latente que ainda precisa ser resolvido.

Também temos virtudes: a colaboração de indígenas, portugueses, espanhóis, negros e todos os diferentes grupos de imigrantes que vieram para o Brasil nos transformam em um enorme potencial, um potencial de diversidade, o que enriquece nossa cultura, nossa língua, nosso jeito de viver. Costumo trabalhar com o conceito de diversidade em contraposição ao conceito de identidade. Quando se fala em identidade, quase sempre se relaciona seu conceito à necessidade de se integrar a grupos iguais – que se alimentam com as mesmas coisas, fazem as mesmas coisas, creem nas mesmas coisas. Acredito que o futuro do país seja investir profundamente na diversidade como um valor, de forma a exercitar, de fato, a unidade na diversidade – não a vendo mais como uma ameaça.

A contribuição desses diferentes povos para nossa população, para nossa cultura, para a formação do que é o brasileiro e do que é o Brasil precisa ser encarada positivamente a partir do conceito de diversidade como uma possibilidade de riqueza e de convivência entre diferentes que se unem para tornar seu futuro e seu presente melhores.

 

Repórter: Augusto Vasconcelos

Imigração Alemã no Rio Grande do Sul: História, Linguagem, Educação

Organizadores: Jorge Luiz da Cunha, Angélika GärtnerDescrição: A colonização de parte do território do Rio Grande do Sul com imigrantes alemães e seus descendentes é um fenômeno de reconhecida importância. Em tempos de interdisciplinaridade e de crescente diálogo entre pesquisadores, que resulta em rica produção acadêmica, os artigos reunidos neste livro pretendem, de um lado, estimular a comunicação entre os que se ocupam do tema da imigração e colonização alemã e, de outro, divulgar interpretações singulares sobre ele, especialmente nas áreas de História, Linguagem e Educação.

 

Informações: 

Ano de lançamento: 2006 | 475 p.

ISBN: 85-7391-075-5 | R$ 35,00 Para adquirir: http://www.ufsm.br/editora/index.htm

 

Fonte: http://editoraufsm.blogspot.com.br/2012/06/o-olhar-de-jorge-cunha-sobre-imigracao.html