Maibaum renova orgulho alemão na Grande Florianópolis
Árvore de maio é uma tradição mantida em cidades como Águas Mornas e São Pedro de Alcântara
O costume de levantar um mastro e nele pendurar brasões era comum no Oeste da Alemanha nos idos do século 15. A Maibaum, ou Maibäume (no plural), que literalmente quer dizer “árvore de maio”, simbolizava os êxitos e a união nas comunidades germânicas. O hábito de erguer a árvore do primeiro dia de maio, com a chegada da primavera, chegou a cidades como São Pedro de Alcântara e Águas Mornas, na Grande Florianópolis. Passado mais de 180 anos, as Maibäume servem a dois propósitos: relembrar as dificuldades dos colonizadores que chegaram à região em 1829 e também ensinar as novas gerações a terem orgulho do trabalho de seus ancestrais.
Lehmkuhl. Koerich. Esses são os brasões que a família de Marlete, 57, colocou na praça de Águas Mornas. Não bastasse a homenagem no Centro, aos parentes que saíram de São Pedro de Alcântara e ladeando as montanhas fundaram a pequena cidade, a artesã mantém dois quadros com os símbolos das duas famílias na sala de casa. Sem nenhuma modéstia ela lembra que seu avô fundou a cidade, hoje com pouco mais de 5.500 habitantes. “Não se trata de um pedaço de madeira com uma figura. E sim da lembrança daqueles que foram bravos na hora de virar a terra e abrir ruas”, garantiu. Para descobrir sua origem Marlete teve de pesquisar um pouco. Descobriu que seu neto, que casualmente se chama Bernardo, tem o mesmo nome do tataravô.
Patrícia Lehmkuhl, 28, anos conta que antes da maibaum ser instalada na praça da cidade, em novembro de 2011, a prefeitura fez um trabalho nas escolas para explicar o significado da árvore. O monumento tem 18 placas com um brasão em cada lado, totalizando 36 escudos. “Hoje todos sabem o que é e para que serve. E o melhor, tem orgulho disso”, comemora a diretora de cultura sobre o resgate das origens. Patrícia lembra que ainda hoje nas comunidades mais distantes, as crianças menores se comunicam com os pais somente em alemão. “A tradição germânica é muito forte. Mas faltava essa retomada das raízes”, disse, ao ressaltar que contou com o trabalho de um historiador para descobrir os brasões das famílias Lehmkuhl e Heizen. Para fomentar a herança dos colonizadores a cidade prepara uma Stammitsch. Há também a intenção de instalar a segunda Maibaum em Águas Mornas. O monumento ficaria na comunidade de Santa Isabel.
São Pedro de Alcântara terá nova árvore
Uma placa na praça mantém os nomes e os brasões das famílias que transformaram São Pedro de Alcântara na cidade pacata e ordeira que é. O labor dos imigrantes enche de satisfação o peito de 88 anos de Longino Klasen. Aposentado mais ativo no cuidado dos bois, o morador do Centro conta que a Maibäume (como fala com seu sotaque carregado) estava podre e precisou ser retirada. Isso aconteceu há quatro meses. A prefeitura está com inscrições abertas para colocação de brasões na praça. “A Maibäume seria levantada no final do mês de setembro”, disse, ao explicar que na Alemanha a árvore era colocada no centro das vilas no primeiro dia do mês de maio, quando chegava a Primavera. Klasen lembra que do avô até os seus filhos o sangue puro alemão não foi misturado. A tradição foi quebrada com a vinda dos netos. “Espero pela Oktobertrans para usar seus trajes típicos. Queria ir com minha bicicleta de 1968, mas o médico me proibiu de andar”, lamentou. Com o sotaque carregado o aposentado conta que sua irmã que teve 12 filhos costumava levar os pequenos para a roça. “Cada criança ficava em um cesto de palha como este” disse ao mostrar o monumento em homenagem aos colonizadores.
A Maibaum é tão estimada pelos moradores da cidade que alguns deles até colocaram o brasão da família na porta de casa. Esse foi o modo do comerciante Gilson Dechamps, 45, relembrar seus antepassados. “Meus bisavós vieram da França e também ajudaram a tornar o matagal de São Pedro em cidade”, afirmou enquanto respondia em alemão ao cumprimento do vizinho que passava.
Nova árvore não tem data para ser instalada
Há exatos quatro meses a Maibaum deixou a praça de São Pedro. O mastro estava podre e as placas despencavam ao sabor do vento. O novo mastro está secando. Mas para que a árvore de maio volte a decorar a praça e ser admirada por moradores e visitantes falta a adesão dos descentes dos imigrantes. A prefeitura abriu inscrições para 40 brasões. A pretensão era levantar a maibaum no final de setembro, mas é preciso completar os inscritos. Cada família pagará R$ 120 para instalar seu brasão.
O artesão José Sérgio Flores, 31, foi quem entalhou as símbolos das famílias da árvore da Primavera que foi retirada da praça de São Pedro. Ele também é autor da maibaum de águas Mornas. Embora a tradição diz que a confecção do monumento deva ser em madeira, desta vez a prefeitura pretende substituir a matéria prima por PVC. “Eles acham que é mais leve e mais seguro se cair em cima de alguém”, disse José. Ele defende o costume que aprendeu desde pequeno quando ouvia o avô contar que na Alemanha cada vila precisava de vigias para guardar as árvores antes do dia da elevação. Se não houvesse vigia moradores de outra vila roubavam o mastro. O resgate era feito com comida e muito chope para os moradores de todas as vilas. O roubo não acontece em Águas Mornas e em São Pedro. Mas a comemoração com muito chope gelado ainda persiste. Os dias 28 e 29 deste mês serão prova disso.
Para colocar o brasão na praça de São Pedro de Alcântara é preciso ligar para a casa da Cultura: 3277-0151. O custo da placa é de R$ 120.
Fonte: http://ndonline.com.br/florianopolis/noticias/103862-maibaum-renova-orgulho-alemao.html