Traços da história da colonização austríaca em Santa Catarina

De “expatriados” indiferentes ao destino do país a defensores do nazismo, os imigrantes germânicos foram excluídos de muitas formas da política brasileira


Revista Manchete de Abril de 1972 traz reportagem sobre o Tirol brasileiro. Foto: Moacir Pereira / Agencia RBS

 

Andreas Thaler nasceu e fez carreira em Wildshönau município com 5 mil habitantes, situado entre Innsbruck e Salsburg. A casa que construiu em Oberau acolhe a filha Frieda, que retornou às origens. A segunda filha viva entre os 14 filhos, Hedwig, reside em um apartamento.

A paisagem dos vales tiroleses é encantadora. As marcas são as construções típicas no meio de charmosas montanhas com pastagem verde no meio a florestas de “tannembaun”, que se movem com a força do vento num emocionante bailado, entre o silêncio e o perfume das flores.

No Brasil, além da floresta virgem, de epidemias, de problemas na produção agrícola, os imigrantes tiveram que enfrentar as repercussões da invasão nazista na Áustria. O governo de Hitler cancelou a transferência de recursos previstos em contratos, a correspondência foi cancelada e quando o Brasil entrou na guerra, Getúlio Vargas vetou a língua alemã. O governo catarinense confiscou tudo o que os tiroleses tinham em equipamentos, rádios transistores e livros. Mas eles continuaram a caminhada. Andreas Thaler morreu tragicamente em 27 de junho de 1939, arrastado pela correnteza durante enchente em Treze Tílias.

 

Há 80 anos, no dia 13 de outubro, 83 imigrantes tiroleses chegaram em SC

A cultura austríaca se transformou na força para superar obstáculos na colonização.


Vista do Vale Tirol na Áustria com montanhas ao redor. Foto: Moacir Pereira / Agencia RBS

 

Desde o dia em que decidiram migrar para o Brasil em busca da terra prometida para fugir da fome e da miséria que atingiam a Europa no pós-guerra e da depressão de 1929, os tiroleses enfrentaram incontáveis adversidades, pesados obstáculos e muitos problemas que não estavam nos planos do ministro da Agricultura da Áustria, Andreas Thaler.

O fundador de Treze Tílias viajara anos antes pela América do Sul e tinha outras preferências para instalar uma comunidade austríaca. Mas optou pelas terras a 15 quilômetros de Ibicaré porque ali havia uma estação ferroviária e teria o suporte do Consulado da Alemanha em Joaçaba. Além disso, havia semelhança geográfica com as montanhas do Tirol e, sobretudo, porque na visita ao cemitério local não encontrou túmulos de crianças. Veio com toda a família e vários filhos menores, como os demais imigrantes.

Os tiroleses embarcaram em Gênova no dia 10 de setembro de 1933. Viajaram oito dias e ao chegar no Rio de Janeiro ficaram esperando mais uma semana na Ilha das Flores. Ali, a primeira surpresa: o ministro teve uma mala roubada. No dia 6 de outubro ocorreu a viagem do Rio a São Francisco do Sul, e do porto, pela Estrada de Ferro São Paulo-Rio Grande, até a parada em Ibicaré. No dia 13 de outubro, há 80 anos, 83 imigrantes chegavam ao destino onde prevalecia mata virgem e terríveis adversidades.

A cultura austríaca se transformou na força interior para superar todos os obstáculos. A Banda dos Tiroleses, que projetaria a cidade décadas depois em todo o Brasil, foi criada dentro do “Principessa Maria”, o navio que os trouxe para Santa Catarina. A energia espiritual foi dada pela fé católica. As danças, as músicas, o folclore, os corais, as artes e a escultura colocaram anabolizante entre os imigrantes, unindo a comunidade em torno das tradições austríacas.

 

População foi incentivada a construir de forma semelhante à arquitetura tirolesa

Comunidade conta hoje com 6 mil habitantes e economia baseada na produção leiteira.


A filha de Andréas Thaler em frente à pintura da residência do ministro no Brasil. Foto: Moacir Pereira / Agencia RBS

 

A partir da gestão do falecido prefeito Afonso Dresch, Treze Tílias virou “O Tirol Brasileiro”, slogan extraído de reportagem da revista Manchete em abril de 1972. Incentivos foram dados à população para erguer casas, hotéis e construções com arquitetura tirolesa, seus beirados longos, pintura branca, sacadas esculpidas e cobertas de flores, com o campanário e o sino sobre o telhado.

 

O nome original da colônia

Dreizehnlinden foi dado pelo criador quando, circulando no centro do Rio, na chegada dos colonizadores, encontrou o poema épico do mesmo nome do alemão Friedrich W. Weber. Veio a 2a Guerra Mundial, os alemães e tiroleses foram proibidos de falar e escrever em língua alemã. Nasceu Treze Tílias. A tília é uma árvore originária do hemisfério norte, hoje encontrada no município.

A comunidade se desenvolveu e hoje conta com 6 mil habitantes. Sua economia é baseada na produção leiteira. Possui a maior fábrica de produtos lácteos do Estado e uma das maiores do Brasil: a Tirol. Tem boa infraestrutura turística, parques temáticos, gastronomia de qualidade e a paz que é a marca dos vales do Tirol.Por Moacir Pereira

Fonte: http://defender.org.br/2013/10/12/tracos-da-historia-da-colonizacao-austriaca-em-santa-catarina/