MITOS DO JUL PARTE I – PELZNICKEL
Não estamos na época do Jul, mas o texto abaixo serve para abrir nossos horizontes e possamos aos poucos introduzir essas ideias nas nossas celebrações em família, relembrando o que os nossos antepassados passavam e viviam.
Nicolau. É assim que muitos alemães mais antigos da parte germânica do Sul do Brasil chamam o tal do “Papai Noel”. O nome vem dos países falantes da língua germânica. São Nicolau é como os alemães católicos o chamam – baseado no bispo que criara a figura do “Papai Noel”. Mas o bispo de Mira, São Nicolau, nada mais era que um estrangeiro – turco – cristão que trazia a deturpação de uma cultura germânica. São Nicolau criara a figura do Papai Noel sobre o germânico Pelznickel.
Pelznickel – ou Pelznikel, ou Belznickel, ou Belsnickel – é um personagem comum aos povos germânicos viventes ao longo do rio Reno. Seu nome tem diversas origens, assim como o personagem. Da junção das palavras alemãs Pelz – Pelz = pele (como as de animal, com o couro), ou do antigo alemão “pelzōn” ou “belzen” que também significaria esfolar – e da palavra Nickel. Essa última que possui diversas especulações de origem. Uma delas seria o próprio nome do personagem, algo como “Nikel cobrto por peles” ou “Nikel esfolado”, uma vez que a criatura era vista como um monstro coberto de peles e de mato. Outra especulação é dada pelos cristãos de que Nickel vem de Nicolau, o que percebemos ser mentira, já que o Pelznickel existia muito antes dos cristãos espalhaem suas mentiras e deturpações. E por último, o próprio níquel, metal usado para cunhagem de moedas desde os tempos remotos devido a ser confundido com a prata.
O Pelznickel, originalmente, seria uma criatura que caçava crianças desobedientes e as levava num saco – esse mito não existe somente em países germânicos, uma vez que nos países latinos se conhece o Velho do Saco. Deste modo, o Pelznickel era representado por uma figura bizarra, sem face definida, coberta de peles esfoladas, mato e folhagens mortas e até teia de aranha, com chifres de bovinos, veados ou até mesmo galhos de árvore – o que era comum numa época em que se vivia perto das florestas e se precisava de uma desmotivação para que as crianças não adentrassem a floresta. Outras imagens do Pelznickel foram criadas com o passar do tempo e/ou com a mudança do ambiente, assim como as especulações da origem do personagem ou do nome do mesmo.
Um Pelznickel menos animalesco, mas igualmente assustador, também é de conhecimento. Ao invés das peles e folhagens, roupas de retalho sujas e panos ou capuzes escondendo o rosto deformado. Ao invés de chifres ou galhos, garras afiadas e correntes ou cordas. Uma imagem muito mais “humana” – ou hominídea, ao menos – teria surgido para assustar as crianças sobre a presença de estranhos, forasteiros e andarilhos (como por exemplo, os judeus comerciantes, que se vestiam com roupas diferenciadas e geralmente sujas devido às peregrinações) – “estranhamente”, esse fato ocorrera também nos países latinos, já que o Velho do Saco tomava uma aparência quase cigana, pois o povo Rom ganhavam fama de ladrões e trapaceiros nessas regiões e mitos precisavam ser criados para alertar as crianças sobre os povos estranhos que possivelmente os causava medo.
O nome ligado ao metal níquel poderia ter também saído dessa nova versão vestida em trapos, uma vez que por serem andarilhos ou comerciantes, andariam com os bolsos de seus trapos cheios de moedas de níquel – seja por confusão, uma vez que o metal era comumente confundido, ou pela idéia de falsificar moedas de prata. Os “Peles-de-Níquel” então poderiam estar sendo representados por uma pessoa vestida em trapos que carregava uma corrente, já que o metal raspando no chão teria um tilintar confundível com as moedas dos comerciantes.
O Pelznickel fora provavelmente criado para fazer com que as crianças obedecessem a seus pais, e mais tarde para que ficassem com medo de estranhos. Os cristãos então resolveram mudar isso, resolveram criar um velho bonzinho, que ao invés de levar as crianças malvadas embora, davam presentes às boas (sendo que as más acabavam ganhando também), mais tarde não teriam medo de estranhos – uma vez que São Nicolau de Mira era proveniente da região que hoje forma a Turquia. Desse modo, as crianças ao invés de buscar por boas ações e ajudar seus pais, buscavam de modo egoísta por presentes – o que perdura até hoje – e não tem mais medo de pessoas estranhas, caso elas se mostrem amigáveis e dêem presentes ou balas – o que deixa muitos padres e velhos safados muito felizes com a idéia até mesmo hoje em dia.
A lenda ainda existe em outras regiões. Assim como o Velho do Saco latino, existe o Krampus na região alpina da Europa, como na Bavária, no Tirol e até mesmo na Hungria. Embora seja visto pelos alemães como um personagem diferente, o Krampus se mostra como uma nova versão da criatura que carregava as crianças más. Para os católicos alpinos, Krampus acompanha São Nicolau, punindo as crianças malvadas que não ganhariam presentes, levando-as pra casa num saco para devorá-las no natal. Diz-se que o Krampus seria como os sátiros dos gregos – conhecidos também por “Satyrs” – mas tendo uma enorme língua pra fora em substituição a um enorme pênis que os sátiros normalmente possuíam. Uma criatura maléfica seguindo uma criatura tida como “benéfica”, seria isso uma desculpa cristã pra explicar possíveis atos ruins da igreja ou de Deus para com as crianças? Seria a língua suja e enorme uma máscara para a pedofilia, uma vez que os sátiros usufruíam de seus enormes membros eréteis em orgias com ninfas do mesmo modo que vemos a pedofilia tomar conta da igreja nos dias de hoje? Podemos lembrar que o Krampus existe numa região onde a cultura do mito cristão é a mais forte em toda a Alemanha.
Se o Pelznickel, o Velho do Saco e o Krampus seriam os mesmos personagens, é difícil afirmar. Mas podemos notar, que como em todo mito germânico não alterado, que foram criados para educar as crianças com a única coisa que pára sua curiosidade: o medo. O mesmo medo, que depois de superado inspira a criança a ter força e coragem para superar os desafios futuros, fazendo com que dêem risadas, noutros tempos, das dificuldades que já tiveram outrora. Ao contrário do Papai Noel cristão, do São Nicolau, que incita as crianças a serem possessivas e achando que tudo que fazem será recompensado por uma criatura do além, e que quando crescem vêem que não é tão simples assim que funciona, fazendo com que a única coisa que saibam fazer é implorar para que a ajuda venha – enquanto pagam dízimos e indulgências.
Fonte: http://wegwisir.blogspot.com.br/2012/03/mitos-do-jul-parte-i-elznickel.html